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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

PORQUE AS ABELHAS SUMINDO ?

As abelhas estão desaparecendo da Terra
Ter, 16 de Outubro de 2012 02:21


As abelhas estão sumindo, e sua extinção é real.  O fenômeno é global. Nos últimos anos houve um declínio acentuado e preocupante das populações de abelhas no planeta – algumas espécies já estão extintas e outras chegam a apenas 4% da população original. O desaparecimento começou na Europa, mas hoje afeta profundamente a segunda potencia da apicultura depois da China, os Estados Unidos, que já perderam entre 50% e 90% das abelhas de um total de 2,4 milhões de colônias comerciais, cada uma com cerca de 30 mil abelhas, ou seja, 25% do que existia em 1980.
O desaparecimento das abelhas também foi constatado na Alemanha, Suíça, Espanha, Portugal, Itália e Grécia. Na região da Áttica, Grécia, no ano passado morreram 6.000 colônias por neonicotinóides, com os quais foram pulverizados tamareiras em floração, para combater o Rynchophorus ferrugineus. Manfred Hederer, presidente da Associação Alemã de Apicultores, relatou uma queda de 25% nas populações de abelhas pelo país.
O desaparecimento das abelhas está intrigando cientistas do mundo todo, e a “Desordem do Colapso das Colônias”, faz parte do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Até agora, ninguém conseguiu explicar por que os insetos têm perdido a orientação e deixando de voltar para suas colmeias.
Cientistas vêm lutando para encontrar as respostas. Estudos apontam que as causas podem estar num conjunto de fatores como a radiação de telefones celulares e linhas de transmissão de alta-voltagem, aquecimento global, o uso de transgênicos e modificações genéticas, monoculturas, vírus, fungos e pesticidas.
De acordo com o jornal inglês The Independent, a radiação dos celulares poderia estar interferindo no sistema de navegação das abelhas, e desorientadas, não conseguiriam mais voltar para suas colmeias. Além disso, citou pesquisas alemãs que apontaram mudanças de comportamento das abelhas nas proximidades de linhas de transmissão de alta tensão.
Como o sistema de orientação das abelhas funciona por meio dos olhos, elas dependem da luz solar para encontrar o caminho de volta para as colmeias, assim, o aumento na incidência de raios ultravioletas poderia ser uma das causas da desorientação.
O uso de transgênicos e modificações genéticas como uma das causas. Há uma intensa utilização das variedades transgênicas do tipo Bt (gene resistente a insetos que contém partes do DNA da bactéria Bacillus thuringiensis), colocando-o no segundo lugar dos transgênicos mais cultivados do mundo, perdendo somente para a soja. Vários países já proibiram o uso do transgênico Bt.  O Peru proibiu a variedade da batata transgênica Bt, em razão do país ser o centro de origem e biodiversidade desta cultura. O México vetou totalmente o plantio e consumo do milho Bt pelas mesmas razões. O governo grego tomou a mesma decisão, estendendo a proibição a 20 variedades do milho Bt, alegando risco de ameaça à espécie humana, à vida silvestre e à indústria de criação de abelhas, pois as abelhas coletam o pólen da flor masculina do milho, o pendão. O Brasil, por sua vez, vem aprovando sistematicamente a liberação dos transgênicos Bt.
Culturas de vegetais geneticamente modificados (GM, em inglês) contem um poderoso micróbio que é ingerido pelas abelhas, podendo agravar a saúde dessas polinizadoras.
Cada vez mais as abelhas apresentam deficiências nutricionais devido à falta de uma dieta diversificada causada pelas dezenas de milhões de hectares de monocultura, notável também na qualidade do mel produzido.
Diana Cox-Foster, especialista em abelhas da Pennsylvania State University dirige suas pesquisas nas hipóteses mais prováveis: vírus, fungo e pesticidas.
De acordo com a revista científica americana Science, o desaparecimento das abelhas pode estar relacionado com o vírus IAPV (sigla em inglês) de origem israelense, que causa uma paralisia profunda nas polinizadoras.
Pesquisas realizadas na Universidade de Columbia mostraram que o mesmo fungo que aparece nos humanos portadores de HIV-positivo ou câncer, foi encontrado em abelhas que tiveram o sistema imunológico afetado.
Atualmente comprova-se que os agrotóxicos mais contribuem para a dizimação dos polinizadores do que proteger as plantações das pragas. Um estudo independente produziu evidências fortes apontando os agrotóxicos neonicotinóides como um dos grandes responsáveis pela extinção das abelhas. A França, Itália, Eslovênia, e até a Alemanha, sede do maior produtor do agrotóxico, baniram alguns destes produtos que matam abelhas.
Num último esforço para salvar seu habitat, algumas abelhas selam as células da colmeia que contêm quantidades excessivas de pesticidas, mesmo assim, essas colônias acabam morrendo.
A solução não será fácil. Um documento vazado mostra que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA já sabia sobre os perigos do agrotóxico, mas os ignorou. O documento diz que o agrotóxico é “altamente tóxico” e representa um “grande risco para os insetos não-alvo (abelhas)”.
Temos de fazer ouvir as nossas vozes para combater a influência das multinacionais fabricantes de agrotóxicos químicos sobre governantes e cientistas, tanto nos EUA quanto na UE, onde eles financiam pesquisas e participam de conselhos de políticas agrícolas. Os reais protagonistas dessa causa – apicultores e agricultores – querem que estes agrotóxicos letais sejam proibidos ou pelo menos que os laboratórios apresentem evidências sólidas comprovando que eles são totalmente seguros.
Quando a vida de abelhas operárias de uma colônia é afetada, há muitas abelhas mortas dentro  e/ou em torno da colmeia. Na questão atual, simplesmente elas estão desaparecendo. Ainda não foi encontrada uma causa específica sobre a real causa do problema. Alguns cientistas, por outro lado, minimizam o problema. O professor emérito de entomologia da Oregon State University, Michael Burgett, diz que as grandes baixas em abelhas poderiam simplesmente ser um reflexo de picos populacionais, como houve no final dos anos 70 num fenômeno similar a este.
Mas não se trata de uma simples repetição. A novidade é que, desta vez, o problema está aparecendo ao mesmo tempo em várias regiões do planeta, inclusive no Brasil.
O colapso de reação em cadeia pode facilmente levar ao fim da Era dos Mamíferos, semelhante ao final da era dos dinossauros há 65 milhões de anos atrás.
Esse artigo se refere às abelhas do gênero Apis mellifera (abelhas do Reino, abelhas europeias, abelhas africanas, abelhas africanizadas, nomes que dá a esse gênero de abelhas no Brasil).
Colaboração: Nikolaos A. Mitsiotis- apicultor e pesquisador -  nikeeper@terra.com.br
(BOX)
BRASIL
As primeiras notícias sobre o fenômeno do desaparecimento das abelhas foram recebidas como uma espécie de enredo de um novo filme de ficção científica. Mas o problema tornou-se muito real. Nos Estados Unidos recebeu o nome de Colony Collapse Disorder (Desordem e Colapso da Colônia). Agora, o problema também está no Brasil, particularmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, onde os apicultores registraram perdas de 25% na produção de mel.
Matéria publicada no jornal Diário Catarinense, de Florianópolis, afirma que o desaparecimento das abelhas já é motivo de grande preocupação entre apicultores dos dois Estados. E o desaparecimento vem acompanhado de outro problema: as abelhas que permanecem nas colmeias estão morrendo infectadas por diversas doenças. Em depoimento ao jornal, o apicultor e pesquisador Leandro Simões, de Campo Alegre, diz que nunca viu algo parecido em 35 anos de profissão.
Mas essas informações se referem às colônias de abelhas africanizadas que vivem em colmeias nos apiários, porém não sabemos se foi constatado nas colônias que vivem fora do controle do homem, em refúgios naturais, e são em número dezenas de vezes superior ao das que vivem em apiários.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

MELIPONÁRIO DA RESERVA NATURAL SERRA DAS ALMAS CRATEÚS/CE.


O Meliponário da Reserva Natural Serra das Almas
Após percorremos mais de 490km de Mossoró/RN até Crateús/CE, finalmente chegamos a Reserva Natural Serra das Almas. A reserva é mantida pela Associação Caatinga e é considerada pela UNESCO como Posto Avançado da Reserva da Biosfera, devido ao modelo inovador de conservação da Caatinga desenvolvido em conjunto as comunidades do seu entorno.


Reservas da Biosfera são áreas de ecossistemas terrestres internacionalmente reconhecidas pela UNESCO que possuem três importantes funções: conservação, devenvolvimento e apoio logístico às áreas protegidas.


São 6.146 hectares de área protegida que resguardam três nascentes e espécies ameaçadas de extinção. Aqui são desenvolvidas atividades de pesquisa científica, recreação e visitação escolar, além de projetos de educação ambiental e desenvolvimento sustentável junto às comunidades do entorno, combinando preservação com geração de renda e melhoria de qualidade da vida local.




Nossa visita tinha por objetivo montar o meliponário que há meses vinha sendo projetado para alocar 200 colônias de Jandaíra. A entrega das primeiras colônias, que serão mantidas pela Associação dentro da reserva  no intuito de devolver à região uma espécie que atualmente não é mais encontrada naturalmente, foi realizada sob clima de muita alegria pela concretização de um sonho.

Aqui as Jandaíras serão multiplicadas e as colônias filhas serão doadas aos moradores das comunidades assistidas pela Associação, em regime de parceria. O meliponário da reserva tem por objetivo servir de fonte para pesquisas científicas, inspiração para projetos de educação ambiental e acima de tudo, preservação de uma espécie que a cada dia vendo sendo ameaçada.


Distante 100 metros da sede, caminhando na antiga trilha do açude, chegamos ao Meliponário construído de alvenaria em padrões ecologicamente corretos.



O Meliponário é, na minha humilde opinião, o sonho de qualquer meliponicultor. Construído para suportar tranguilamente 400 colônias, está margeado num raio de 10 km em plena mata de caatinga que ao longo dos últimos dez anos vem sendo recuperada pelos esforços da Associação Caatinga.



Construído em formato de heptágono (7 lados), foi pensado para que todo o trabalho com as abelhas fosse desenvolvido dentro das instalações do meliponário. O telhado é uma obra de arte a parte, feito de maneira a sustentar toda a estrutura circular. Possui ótima bancada interna, tela de proteção, iluminação interna e externa e uma pia para lavagem de materiais e utensílios de manejo.



Assim que chegamos as caixas foram postas nas prateleiras e passei as primeiras orientações sobre o processo de soltura das abelhas que ocorreria nos dias seguintes, pois quando estamos diante de tantas colônias reunidas em um novo local é preciso que a liberação das abelhas seja feita aos poucos para evitar tumulto e briga entre as campeiras.



Ainda no primeiro dia conferimos algumas colônias para verificar se tinham chegado bem. A viagem longa na carroceria do carro deixa as abelhas irritadas, mas tudo estava em perfeita ordem, graças ao Grande Arquiteto Do Universo.



Mesmo cansados, todos nós estavamos muito felizes em poder contribuir com um projeto tão importante para as nossas abelhas nativas. Estamos plantando muitas sementes nesse sertão e esperamos que, mesmo diante de tantas adversidades, as próximas gerações possam collher os frutos desses pioneiros.

No dia seguinte, após uma noite muito tranguila nas dependências da sede da reserva, tomamos um café maravilhoso típico do Sertão. Ainda muito cedo, por volta das 5:30h da manhã, me dirigi ao meliponário para soltar o restante das colônias.




Assim que retiramos as telas, as abelhas saiam as centenas realizando, imediatamente, o voo de reconhecimento na nova morada. me sentei junto a velho tronco de angico e fiquei a observar a festa. No início da manhã foi aquela agitação, mas no decorrer do dia todas foram se achando e a harmonia voltou a reinar.


Ainda pela manhã fui conhecer alguns dos vários projetos que são realizados pela Associação. Entre eles está um lindo trabalho de reflorestamento da mata de caatinga, com as mudas de espécies nativas que são criadas em viveiros e estufas da reserva.

 No total, são mais de 40 espécies de árvore da caatinga que são cultivadas para  replantio de áreas degradadas. Ganhei de presente quatro mudas de Ipê roxo e amarelo. Irei plantá-las em Taboleiro Grande-RN, ao lado da antiga Casa Grande, em Homenagem ao Velho José Carneiro, meu querido avô, a quem devo o gosto pelas abelhas Jandaíra. Sei que onde ele estiver, certamente, está muito feliz pela continuação de nosso trabalho.


Sai da reserva com uma imensa vontade de ficar encantado com tudo que vi. Agradeço imensamente a Associação Caatinga, na pessoa de sua Coordenadora Railda Machado, pela maravilhosa oportunidade de conhecer e agora participar de um dos vários projetos realizados pela entidade. Nos próximos dias ocorrerão as primeiras capacitações com os moradores das comunidades locais para formação de novos meliponicultores. 

Mossoró-RN, em 10 de setembro de 2012.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão



A Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra das Almas, mantida pela Associação Caatinga,  é reconhecida, pela Unesco, como Posto Avançado da Reserva da Biosfera por abrigar uma representativa parte da caatinga no sertão de Crateús-CE. São 6.146 hectares de área protegida que resguardam três nascentes e espécies ameaçadas de extinção. São desenvolvidas atividades de pesquisa científica, recreação e visitação escolar, além de projetos de educação ambiental e desenvolvimento sustentável  junto às comunidades do entorno da reserva, combinando preservação ambiental com geração de renda e melhoria da qualidade de vida local.
RNSA (CRIAÇÃO, HISTÓRIA, ATIVIDADES/PROJETOS DESENVOLVIDOS DENTRO E FORA) –
A Associação Caatinga é uma organização não governamental cearense, sem fins lucrativos, desde 2004, qualificada, pelo Ministério da Justiça, como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), na qual tem por a missão conservar a biodiversidade da Caatinga.
A instituição foi criada em 21 de outubro de 1998, a partir da visão privilegiada de um cidadão norte-americano, Sr. Samuel Johnson (in memoriam), então presidente da SC Johnson, empresa multinacional que utilizava a cera da Carnaúba como principal matéria prima para produzir alguns de seus produtos.
Em 1998, Samuel Johnson refez a viagem que seu pai o Sr. H.F. Johnson (in memoriam), realizara em 1935: a Expedição Carnaúba. A bordo de um hidroavião, partiu da Flórida (EUA) com destino ao Brasil, visitando vários Estados dentre eles o Ceará, a fim de conhecer de perto as regiões de carnaubais.
Samuel Johnson ficou encantando com a beleza da Caatinga, sobretudo com a palmeira Carnaúba. Com o intuito de ajudar na preservação deste bioma, resolveu doar um recurso, de sua fortuna pessoal, instituindo o Fundo Samuel Johnson, gerido pela The Nature Conservancy (TNC), com a finalidade de adquirir uma relevante área de Caatinga no Ceará, para transformá-la em uma unidade de conservação, bem como fundar uma instituição local que pudesse gerir esta área e fomentar a preservação da Caatinga.  Com este propósito surge a Associação Caatinga!
A partir de 1999 foram adquiridas algumas fazendas no Município de Crateús (CE) e em 2000 a Reserva Natural Serra das Almas foi reconhecida pelo IBAMA como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Atualmente são 6.146 ha de área protegida.
Ao longo de seus mais de 13 anos de atuação, a Associação Caatinga tem desenvolvido projetos que visam contribuir com a preservação da Caatinga. Dentre eles, destacam-se as ações diretamente voltadas para as comunidades que moram no entorno da Reserva Natural Serra das Almas, propiciando uma convivência mais sustentável e harmônica com a Caatinga, através da implementação de tecnologias sustentáveis como, por exemplo, a meliponicultura (criação de abelha Jandaíra), construção de cisternas de placas, produção de mudas nativas da Caatinga, restauração florestal de áreas degradadas, curso de produção de artesanatos e de sabonetes, fomento ao protagonismo juvenil através de capacitações diversas e inserção ao mercado de trabalho, tendo sempre como premissa a educação ambiental dos beneficiários de seus projetos.
A Associação Caatinga também tem fomentado a criação e o apoio na gestão de RPPN’s aumentando a proteção da Caatinga.
Destaca-se também a atuação da Associação Caatinga na promoção de políticas públicas, tendo colaborado ativamente para a implementação do Programa Selo Município Verde e o ICMS Socioambiental, ambos no Estado do Ceará, que são importantes ferramentas em prol da valorização da Caatinga cearense.

Visão geral da reserva
Saiba Mais sobre a Reserva Natural Serra das Almas:





Localizada no Sertão dos Inhamuns, no município de Crateús (Ceará) e Buriti dos Montes (Piauí), numa área classificada pelo Ministério do Meio Ambiente como de alta importância para a conservação, a Reserva Natural Serra das Almas tem uma área de 6.146 hectares que abrigam uma amostra significativa da flora e fauna da Caatinga.
A sede da reserva fica a 50 km da cidade de Crateús (385 Km de Fortaleza) sendo este percurso percorrido em 1 hora e 15 minutos em média.

Localização da Reserva

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

CAIXA RACIONAL PARA REPRODUÇÃO DE MAMANGAVAS (XYLOCOPA FRONTALIS)


Colonização e biologia reprodutiva de mamangavas (Xylocopa frontalis) em um modelo de ninho racional

Colonization and reproductive biology of carpenter bees (Xylocopa frontalis) in a model of rational nesting box


José Hugo de Oliveira FilhoI; Breno Magalhães FreitasII, 1,III
IEngenheiro Agrônomo, MSc IIEngenheiro Agrônomo, PhD, Professor da Universidade Federal do Ceará, (UFC). E-mail:freitas@ufc.br IIIDepartamento de Zootecnia, UFC, CP 12168 Campus do Pici, 60021-970, Fortaleza–CE





MAMANGAVA MACHO                                          
                              MAMANGAVA FÊMEA




RESUMO
As mamangavas (Xylocopa spp.) são importantes polinizadores, mas o seu criatório para introdução em áreas agrícolas tem sido dificultado pelo hábito de nidificação dessas abelhas. Propostas de ninhos racionais, que possibilitem a observação do seu interior, manejo e transporte para os pomares, não têm sido bem aceitas pelas abelhas. O presente trabalho testou a colonização e biologia reprodutiva das mamangavas em um modelo sugerido por FREITAS & OLIVEIRA (2001). O resultado mostrou colonização por X. frontalis em taxas entre 18,75 e 52,22%, com 3,0 a 4,7 ninhos povoados por caixa. A arquitetura dos ninhos construídos foi semelhante ao observado em ninhos silvestres e o ciclo de ovo a adulto levou, em média, 45,58 dias. A relação macho/fêmea das crias foi de 0,60 : 1,00. Conclui-se que o modelo de caixa racional testado apresenta boa aceitação por X. frontalis e não afeta a biologia reprodutiva dessa abelha.
Palavras-chave: mamangava, criatório racional, polinização, manejo de abelhas.

ABSTRACT
Carpenter bees (Xylocopa spp.) are important pollinators, but rearing them for introduction in agricultural areas has been difficult because of their nesting behavior. Models of rational nesting boxes, which allow observing their interior, manipulating the nests and transporting them to the orchards, have not been accepted by the bees. The present work tested colonization and reproductive biology of carpenter bees in a model of nesting box suggested by FREITAS & OLIVEIRA (2001). Results showed 18.75 to 52.22% colonization by X. frontalis, with 3.0 to 4.7 nests founded per box. Architecture of the nests built in the rational rearing boxes was similar to that observed in wild nests, and the cycle from egg to adult took an average of 45.58 days. The offspring ratio male/female was 0.60 : 1.00. It is concluded that the model of rational nesting box tested is well accepted by X. frontalis and does not affect negatively the reproductive biology of this bee species.
Keywords: carpenter bee, rational rearing, pollination, bee management.



INTRODUÇÃO
As mamangavas (Xylocopa spp.) são abelhas de porte avantajado que desempenham importante papel polinizador em diversas espécies vegetais de flores grandes, sejam elas silvestres como a castanheira-do-Pará (Bertholletia excelsa Humb & Bonpl.) ou cultivadas como o maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims. f.flavicarpa Deg.) (CORBET & WILLMER, 1980).
Estas abelhas nidificam escavando galerias em troncos de árvores mortas, galhos ou qualquer tecido vegetal já relativamente seco, sem fendas ou rachaduras (CAMILLO & GARÓFALO, 1982; CAMILLO et al., 1986). Algumas espécies também podem nidificar em tecidos vegetais vivos (HURD, 1978). Tal comportamento de nidificação tem criado dificuldades para o uso das mamangavas como agentes polinizadores em áreas agrícolas, uma vez que não permite o manejo racional dos ninhos.
Porém, há uma grande necessidade de estudos que venham a possibilitar a criação artificial das mamangavas, fornecendo aos produtores agrícolas, tanto os insetos quanto informações sobre o manejo adequado (RUGGIERO, 2000). Dessa forma, tentativas têm sido feitas visando criar mamangavas para introdução em áreas cultivadas. Ninhos-armadilhas confeccionados em gomos de bambu (Bambusa sp.) ou vigotas de Pinus sp. têm sido usados para criar mamangavas com a finalidade de polinização em pomares de maracujá (CAMILLO, 1998; 2000). Propostas de formas de criação de mamangavas que permitam o manejo das abelhas foram feitas por MARDAN et al. (1994), que sugeriu o uso de blocos retangulares de madeira mantidos lado a lado. Esses, uma vez colonizados pelas mamangavas, poderiam ser remanejados da maneira mais conveniente ao criador. MARDAN (1995) propôs a colocação de blocos de madeira montados em molduras dentro de caixas retangulares para que funcionassem como uma colméia. FREITAS & OLIVEIRA FILHO (2001) apresentaram um modelo de ninho para o criatório de mamangavas que se assemelha à colméia Langstroth e que permite manejar racionalmente essas abelhas para serviços de polinização.
O presente trabalho testou a aceitação, por parte das mamangavas, do ninho descrito por FREITAS & OLIVEIRA FILHO (2001) e estudou os hábitos de nidificação e reprodução dessa abelha no referido ninho, comparando-os ao observado na natureza.

MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida nos municípios de Fortaleza e São Luís do Curú, ambos no Estado do Ceará, utilizando-se o modelo de ninho racional para mamangavas descrito por FREITAS & OLIVEIRA FILHO (2001). Trata-se basicamente de uma colméia padrão Langstroth usada na criação de Apis mellifera, cujos quadros foram adaptados para nidificação de Xylocopa spp., de forma que cada um constitui um ninho independente (Figura 1). Devido à espessura dos quadros, cada caixa pode comportar nove ninhos de mamangava.


O quadro ou ninho verdadeiro é composto por uma barra superior que dá sustentação à tábua de madeira morta e seca que serve de substrato para a nidificação de Xylocopa. O substrato é protegido em cada lado por uma lâmina de vidro, cujas funções são delimitar o espaço lateral para construção das galerias e permitir a visualização da família. O ninho é completado por uma barra inferior que dá sustentação e mobilidade às lâminas de vidro, e serve de encaixe para a cunha de madeira que tem a função de entrada do ninho, conforme apresentado nafigura 1.
Povoamento espontâneo dos ninhos racionais por mamangavas.
Os dados foram coletados de abril a dezembro de 1999 em Fortaleza e, em São Luís do Curú, as mesmas informações foram obtidas entre abril e dezembro de 2000.
Em Fortaleza, trinta caixas racionais para mamangavas foram instaladas a 2m de altura no galpão do apiário da Universidade Federal do Ceará. Simultaneamente, dez troncos de árvores mortas contendo diversos ninhos silvestres de mamangavas foram colocados de forma intercalada entre as caixas racionais. A partir de então, a saída de fêmeas jovens desses ninhos em busca por novos locais para nidificação e o povoamento das caixas racionais foi monitorado. Em relação às caixas racionais, coletaram-se informações especialmente a respeito do comportamento de abordagem, aceitação e taxa de sucesso de nidificação.
Nas observações conduzidas a campo, em São Luís do Curú, utilizaram-se três propriedades nas regiões distritais do referido município, todas contendo no mínimo 1ha cultivado com o maracujá-amarelo. Nessa fase do experimento, 16 caixas racionais foram alocadas a campo, sendo que uma fazenda recebeu seis e, as demais, cinco caixas cada uma.
As caixas foram instaladas de forma aleatória dentro do plantio, sobre mourões com altura de 2,5m, fixados ao solo, ficando posicionadas acima da altura do segundo arame de sustentação da espaldeira do pomar. Não houve introdução de ninhos silvestres povoados com mamangavas próximos às caixas, como foi feito em Fortaleza. A partir da instalação, até o fim do experimento de campo, foram feitas observações diárias nas caixas acompanhando o povoamento dos ninhos para obter informações que permitissem determinar a taxa de aceitação e nidificação.
Biologia reprodutiva das mamangavas nidificando nas caixas racionais.
Essa etapa foi conduzida tanto em Fortaleza quanto em São Luís do Curú, a partir do experimento de nidificação descrito anteriormente. Dessa forma, após a confirmação da ocupação de cada ninho e coleta dos dados referentes ao seu povoamento e à espécie de Xylocopa que o fundou, fazia-se o registro da nidificação e se passava a acompanhar diariamente a família, coletando dados sobre o período de desenvolvimento, relação entre machos e fêmeas produzidos nos ninhos povoados, arquitetura e dimensões dos ninhos; reutilização dos ninhos, e pragas e inimigos.

RESULTADOS
Povoamento espontâneo das caixas racionais por mamangavas
O povoamento espontâneo das caixas racionais aconteceu tanto em Fortaleza quanto em São Luís do Curú. Em ambos os casos, apenas abelhas da espécie X. frontalis inspecionaram e colonizaram as caixas. A mamangava fêmea, em busca de local para nidificação, aproximava-se da caixa e começava a revoar ao seu redor examinando as condições antes de pousar. A abordagem sempre ocorria próximo às cunhas de entrada dos quadros, demonstrando a atração que essas estruturas exercem sobre as mamangavas. Após revoá-las, a fêmea pousava próximo ou diretamente na abertura de uma delas e explorava o seu interior, podendo começar a escavar o ninho imediatamente ou após alguns minutos ou horas. Nesse caso, a fêmea saía da cunha de entrada e repetia seus vôos de inspeção naquela mesma cunha, e nas dos quadros vizinhos antes de decidir-se definitivamente por iniciar a escavação.
O povoamento foi observado em todas as caixas colocadas em Fortaleza e São Luís do Curú, atingindo uma média de 4,7 e 3,0 ninhos por caixa, respectivamente. Cada ninho foi construído em um quadro independente, não havendo, portanto, nenhum quadro povoado com mais de um ninho. Não houve desistência de ninhos, e todos os quadros nos quais observaram-se escavações apresentaram ninhos com crias em seu interior. Considerando o número de ninhos disponíveis para nidificação, o povoamento variou de 18,75% em São Luís do Curú a 52,22% em Fortaleza.
Biologia reprodutiva das mamangavas nidificando na caixa racional
O período médio de desenvolvimento de ovo a adulto das mamangavas produzidas na caixa racional foi observado em São Luís do Curú e durou cerca de 45 dias, sendo aproximadamente 5 dias como ovo, 15 dias como larva e 25 dias no estágio de pupa (Tabela 1). Os ninhos de Fortaleza produziram 21 machos e 26 fêmeas, apresentando uma relação macho/fêmea de 0,82 : 1,00, em São Luís do Curú foram gerados 04 machos e 10 fêmeas, atingindo 0,40 : 1,00. Considerando as duas localidades, a média geral foi de 0,60 : 1,00.


O estudo da arquitetura dos ninhos construídos na caixa racional para mamangavas mostrou que eles são formados por um sistema de galerias que tem início na parte externa do ninho, com a porção já previamente escavada dentro da cunha de entrada. A partir do ponto em que a cavidade pré-escavada da cunha entra em contato com a tábua de madeira interna do quadro, a mamangava escava um curto túnel com inclinação entre 30 e 45°. Esse túnel, que se abre em uma câmara interna, é construído obedecendo à mesma direção e sentido da entrada da cunha. A partir da câmara interna, surgem as galerias com células horizontais em suas extremidades, nas quais a mamangava realiza sua postura e produz suas crias.
A primeira galeria comumente possui apenas duas ou três células, e a segunda normalmente é mais curta, embora possa conter duas células, e é construída na direção oposta à primeira. A segunda galeria também inicia-se a partir da câmara interna, a qual se torna maior com o aumento no número de galerias do ninho. Como o número de células por galeria é pequeno, o mesmo ninho pode apresentar uma terceira, e até uma quarta galeria, construídos pela mesma fêmea. Essas galerias são feitas acima das anteriores, iniciando-se também na câmara central do ninho e seguindo o mesmo padrão anterior: a terceira no mesmo sentido da primeira e também comportando duas a três células e a quarta, acima da segunda com até duas células. Caso o ninho venha a ser reutilizado por uma ou mais filhas, ou alguma outra mamangava, esse padrão normalmente é obedecido, com as novas proprietárias escavando suas próprias galerias e células ou aumentando as galerias já existentes. As medidas médias das principais estruturas dos ninhos de mamangavas na caixa racional encontram-se na tabela 2.


Os dados coletados na caixa racional mostraram que as mamangavas X. frontalis praticamente não enfrentaram problemas com pragas e inimigos. Por outro lado, a mortandade de crias no período de ovo a adulto foi de 17,6% e relacionou-se a problemas específicos da caixa racional. Essa mortandade ocorreu apenas durante a fase de larva, sendo 6,0% devido a danos causados ao lacre das células durante a manipulação dos quadros e 11,6% a ataques de formigas, principalmente Camponotus sp., que construíram seus ninhos entre a lâmina de vidro e a tábua de madeira colocada como substrato de nidificação para as mamangavas. Cuidados na manipulação dos quadros e combate à Camponotus sp. podem reduzir a mortandade, consideravelmente.
Considerando as crias adultas, verificou-se, em certas épocas do ano, a ocorrência de indivíduos com asas atrofiadas. Embora essa má formação não tenha impedido a sobrevivência da larva, ela faz com que o adulto morra quando ele tenta fazer seu primeiro vôo, pois não consegue mais retornar ao ninho. As causas desse fenômeno precisam ser melhor estudadas, pois aparentemente está relacionado com a falta de alimento no campo já que sempre ocorreu quando as floradas estavam em seu final.

DISCUSSÃO
O modelo de ninho racional testado foi capaz de atrair as mamangavas, levá-las à nidificação e à produção de crias com sucesso. Quase todos os parâmetros avaliados nesse estudo, como a forma de abordagem, taxa de colonização, tempo de desenvolvimento das crias, relação macho-fêmea produzida e reutilização dos ninhos apresentaram resultados semelhantes ao descrito na literatura para nidificação em condições silvestres ou em ninhos-armadilhas (CAMILLO, 1979; CAMILLO & GARÓFALO, 1982; CAMILLO et. al., 1986; O´TOOLE e RAW 1991; SIHAG, 1993a,b; CAMILLO, 1998).
Apenas no que se refere à arquitetura dos ninhos e pragas e doenças foram observadas algumas diferenças entre a nidificação das mamangavas nos ninhos racionais e na natureza. No caso da arquitetura dos ninhos, embora ela seja parecida com a dos ninhos silvestres, e corresponda em parte ao descrito por CAMILLO & GARÓFALO (1982) para ninhos de X. frontalis e X.grisescens, uma diferença marcante residiu no fato de que os ninhos selvagens são quase sempre construídos na vertical e, quando o substrato permite, apresentam arquitetura tridimensional (CAMILLO, 1979). Mesmo assim, os ninhos da caixa racional, predominantemente horizontais e construídos em um único plano devido às limitações impostas pela tábua de madeira e as lâminas de vidro, não fogem a situações vividas pelas abelhas na natureza na qual se pode encontrar com certa freqüência ninhos horizontais e bidimensionais em função do substrato em que a mamangava nidifica.
No que se refere a doenças e inimigos, apesar da literatura (HURD, 1978) relatar a existência de parasitismo em larvas de X. frontalis e X. grisescens pelo besouro Cissites maculata, nenhum caso foi observado. Já a mortandade das larvas, esta pode ser reduzida consideravelmente com maiores cuidados na manipulação dos quadros e combate à Camponotus sp..

CONCLUSÃO
Conclui-se, portanto, que os hábitos de nidificação e reprodução das mamangavas no modelo testado são semelhantes ao observado na natureza, podendo o mesmo ser usado com sucesso para o criatório de mamangavas. Porém, há a necessidade de avaliar se o seu uso em áreas agrícolas contribui para aumento de produtividade das culturas, uma vez que o maior interesse no criatório de mamangavas reside na utilização dessas abelhas como agente polinizador.

terça-feira, 24 de julho de 2012

IBAMA SEGUE DIRETRIZES DE POLÍTICAS PÚBLICAS DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA) VOLTADAS PARA A PROTEÇÃO DE POLINIZADORES.







Brasília (19/07/2012) – Foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) nesta quinta-feira (19/07) um comunicado do Ibama que dá início formal ao processo de reavaliação de agrotóxicos associados a efeitos nocivos às abelhas. Quatro ingredientes ativos que compõem esses agrotóxicos serão reavaliados: Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil. O primeiro a passar pelo processo de reavaliação será o Imidacloprido, que é a mais comercializada destas quatro substâncias. Só em 2010, empresas declararam ao Ibama a comercialização de 1.934 toneladas de Imidacloprido, cerca de 60% do total comercializado destes quatro ingredientes.

Esta iniciativa do Ibama segue diretrizes de políticas públicas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) voltadas para a proteção de polinizadores. As diretrizes do MMA acompanham a preocupação mundial sobre a manutenção de populações de polinizadores naturais, como as abelhas. A decisão do Ibama se baseou em pesquisas científicas e em decisões adotadas por outros países.

Estudos científicos recentes indicam que o uso destas substâncias é prejudicial para insetos polinizadores, em especial para as abelhas, podendo causar a morte ou alterações no comportamento destes insetos. As abelhas são consideradas os principais polinizadores em ambientes naturais e agrícolas, e contribuem para o aumento da produtividade agrícola, além de serem diretamente responsáveis pela produção de mel.

Como medida preventiva, o Ibama proibiu provisoriamente a aplicação por aviões de agrotóxicos à base de Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil em qualquer tipo de cultura. O uso de inseticidas que contem esses ingredientes ativos por meio de aplicação aérea tem sido associado a morte de abelhas em diferentes regiões do país, o que motivou a proibição.

No prazo de três meses as empresas produtoras de agrotóxicos devem incluir uma frase de alerta para o consumidor nas bulas e embalagens de produtos que contenham um ou mais dos compostos químicos destacados na portaria. A mensagem padrão informará que a aplicação aérea não é mais permitida e que o produto é tóxico para abelhas. Além disso, constará da mensagem que o uso é proibido em épocas de floração ou quando observada a visitação de abelhas na lavoura.

Segundo o coordenador-geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas do Ibama, Márcio de Freitas, “ as medidas adotadas pelo Ibama visam proteger este importante serviço ambiental de polinização, que comprovadamente aumenta a produtividade agrícola. O intuito da reavaliação é contribuir para agricultura e apicultura brasileiras.” Das 100 culturas agrícolas produzidas que representam 90% da base de alimento mundial, cerca de 70 % são polinizadas por abelhas, completou o coordenador-geral.

Ao final do processo de reavaliação, o Ibama poderá manter a decisão de suspensão da aplicação por aviões destes produtos, ou revê-la. Caso o resultado dos estudos indiquem, o instituto poderá adotar outras medidas de restrição ou controle destas substâncias.


Veja aqui a norma publicada no DOU

Confira a frase de advertência que deverá ser incorporada às bulas e embalagens do produtos que contém Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil:

“Este produto é tóxico para abelhas. A aplicação aérea NÃO É PERMITIDA. Não aplique este produto em época de floração, nem imediatamente antes do florescimento ou quando for observada visitação de abelhas na cultura. O descumprimento dessas determinações constitui crime ambiental, sujeito a penalidades.”

Talitha Monfort Pires
Ascom Ibama
Foto: Andrej Gogala